domingo, 5 de abril de 2009

"Apenas" um gafanhoto

Ontem dei uma volta com alguns amigos meus. Grandes amigos, mas igualmente enrolados, pois foi na hora de ir embora, enquanto eu os esperava, que tive tempo para refletir sobre algumas idéias, as quais escrevo agora.

Ansioso por ir embora, já esperava por eles do lado de fora de uma casa de shows em que fomos. Mal amparado da forte chuva por um estreito parapeito, calado, apenas conversando com meus pensamentos, comecei a ficar um pouco impaciente pela demora e pela água em meus pés, o que gerou um pouco de irritação que, por sua vez, influenciou meus pensamentos.

Foi quando apareceu um gafanhoto, desses verdes, voando por onde eu me encontrava. Como todos sabem, os insetos parecem ser bem indecisos quanto ao lugar de pousar, nunca ficam parados. E com esse gafanhoto não era diferente: ele era bem hiperativo.

Pode ser bem irritante, para uma pessoa que estava em minha situação, ver um animalzinho assim não se decidir se vai ou se fica. Até que ele finalmente pousou no chão, junto à parede, e começou a tentar subir nela. Como um típico biólogo, comecei automaticamente a pensar em como estava trabalhando a musculatura das pernas posteriores do gafanhoto, permitindo que ele saísse do chão até a parede. No entanto, apesar de seus fortes músculos de inseto, ele estava tendo uma aparente dificuldade nessa simples tarefa. Foi então que veio um pensamento em minha mente, praticamente automático, destes que você não controla, e murmurei então em voz baixa para o gafanhoto (mas na verdade sei que foi para mim mesmo): "Olha só, seu objetivo de subir essa parede é tão simples e você tem essa dificuldade toda, gostaria que meus objetivos fossem fáceis como os seus".

Quase que instantaneamente me veio um pensamento antagônico, e através dessa experiência eu aprendi mais um fato: essa tarefa de subir a parede era realmente simples?
Bom, na natureza, ou seja, em nosso mundo (sim, nosso mundo é a natureza), existem infinitas relatividades: é muito simples para um peixe respirar na água, mas para nós não! Da mesma forma em que é simples para nós escrever nossos nomes em uma folha de papel, para um peixe não é! Então, relativizando essa situação do gafanhoto, e transpondo ela para minha vida, será que meus objetivos são tão mais complicados do que os dele? Afinal ele é um gafanhoto, não posso esperar que ele tenha as mesmas aspirações que eu!

Isso tudo me fez pensar que meus objetivos, bem como os de qualquer pessoas, podem ser mais fáceis de realizar do que a gente pensa. Por que não poderia haver "algo" maior olhando para mim (por favor, sem religião aqui) e pensando o mesmo que pensei do gafanhoto? Sentindo pena da gente...

É claro que não espero, nem acredito, que o gafanhoto esteja escrevendo sobre mim em seu pequeno blog para insetos. Mas por que não ele não pode ter sentido o mesmo que eu?

"Pobre humano, cheio de problemas, criados por sua própria espécie... Bom, deixe-me voltar à minha escalada aqui"